O Produto Interno Bruto (PIB) é amplamente utilizado como um dos principais indicadores econômicos, medindo o valor total dos bens e serviços produzidos em um país ao longo de um determinado período. Embora frequentemente visto como indicador de prosperidade, o PIB apresenta sérias limitações e pode gerar interpretações enganosas sobre a saúde econômica real.
Um exemplo recente do descompasso entre o PIB e a percepção da população ocorre no Brasil. Apesar de o país ter encerrado 2024 com crescimento de 3,4% no PIB, segundo dados oficiais, a aprovação do governo federal permanece baixa. Pesquisa PoderData publicada em abril de 2025 revela que 53% da população desaprova o governo, enquanto apenas 41% o aprovam. O paradoxo entre o crescimento econômico e a impopularidade política reforça que diferentes formas de crescimento da atividade econômica geram impactos diversos sobre o padrão de vida da população.
Um aspecto crítico que compromete a interpretação do PIB é a forma como ele soma, de maneira indiferenciada, os gastos do governo. Segundo Murray Rothbard, em America’s Great Depression, a contabilidade nacional tradicional trata os gastos públicos como um acréscimo ao produto nacional, mas essa visão seria ilusória. Para Rothbard, é “muito mais realista considerar todos os gastos governamentais como uma depredação do produto nacional, e não como um acréscimo a ele”. Essa crítica, típica da Escola Austríaca, destaca que aumentos no PIB financiados por expansão fiscal podem representar um empobrecimento líquido da sociedade, ao redirecionar recursos da economia voluntária para fins determinados politicamente — muitas vezes com baixo retorno econômico ou mesmo destrutivos. Um exemplo claro são os gastos com guerras, que inflacionam o PIB e, ao mesmo tempo, resultam em destruição de capital e piora do bem-estar da população.
Em 2024, a expansão do PIB brasileiro foi impulsionada majoritariamente pela ampliação dos gastos públicos, especialmente por meio de programas de transferência de renda, aumento de subsídios e estímulos ao consumo via crédito público. Essa trajetória desperta dúvidas quanto à sustentabilidade e à qualidade do crescimento, já que se concentrou em gastos correntes e não em aumento consistente do investimento privado ou da produtividade.
Investimentos públicos com baixo retorno econômico, frequentemente orientados por critérios políticos e não técnicos, tendem a gerar efeitos temporários sobre a atividade econômica, mas não criam capacidade produtiva duradoura. Além disso, esse impulso fiscal ajudou a promover inflação persistentemente elevada, refletindo-se nos preços de itens como alimentos e serviços essenciais, corroendo o poder de compra das famílias, sobretudo das mais vulneráveis.
Portanto, embora seja útil como indicador de atividade econômica, o PIB apresenta sérias limitações quando analisado isoladamente. No caso brasileiro, o chamado "paradoxo" entre baixa satisfação popular e expansão do PIB é, na verdade, um efeito esperado sob a ótica da economia liberal clássica, que valoriza não apenas a quantidade da expansão econômica, mas sobretudo sua qualidade, eficiência e impacto sobre o bem-estar real da sociedade.
*Por André Cogo Dalmaschio (CGA), sócio-fundador da Armada Asset | MFO. andre@armada-asset.com.