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Brasil-China

O recente acordo tarifário entre Estados Unidos e China anunciado neste mês acalma os exportadores e importadores dos dois países, mas traz consequências ambíguas para o mercado brasileiro. Para o Brasil, esse reposicionamento geoeconômico oferece tanto oportunidades estratégicas quanto desafios significativos, especialmente para setores altamente dependentes de exportações ou expostos à concorrência internacional.

O principal ganho para o Brasil, ao menos no curto prazo, reside no restabelecimento da previsibilidade econômica global. A trégua comercial tende a reduzir a volatilidade nos mercados, fortalecer moedas emergentes e reaquecer o apetite internacional por ativos de risco. Para o especialista em comércio exterior, o diretor de Relações Institucionais da AGL Cargo, Jackson Campos, o acordo entre os países pode trazer mais investimentos para setores bem estabelecidos, como as commodities.

“Nesse cenário, o Brasil, com sua base sólida de exportações de commodities, pode se beneficiar de um ambiente externo mais favorável ao crescimento. Setores como mineração, petróleo, celulose e proteína animal podem passar por uma valorização, embora também exija cautela, já que a concentração em um único parceiro pode gerar vulnerabilidades no médio prazo. O mercado se acalmou e está inclinando para um cenário mais positivo”, explica Campos.

A ida do presidente Lula para a China e o anúncio de diversas negociações com o país asiático evidenciou a boa relação entre os países e a cooperação entre eles só deve aumentar. O consumo de produtos chineses aumentou 40% no Brasil e o mercado chinês está se abrindo em outros setores para fornecedores brasileiros.

Por outro lado, o Brasil também corre o risco de ser ofuscado. Os exportadores brasileiros de soja ocuparam o espaço deixado pelos produtores americanos, tornando-se o principal fornecedor do grão para a China, durante o período em que os dois países possuíam conflitos. Com o novo acordo, é razoável esperar uma reaproximação neste setor, que pode reduzir o lucro do agronegócio nacional.

“Mais do que perder volume, o Brasil pode enfrentar uma queda nos preços médios de exportação, além de ter que lidar com uma concorrência mais agressiva dos EUA em alguns mercados. Produtos como químicos, plásticos, autopeças e eletrônicos podem perder competitividade caso o interesse chinês vá para fornecedores americanos”, afirma o especialista.

Taxação como pretexto

O anúncio da taxação em quase todos os países trouxe insegurança para o mercado e balançou diversas relações comerciais. De lá para cá, o presidente americano Donald Trump tem se encontrado com diversos líderes mundiais e anunciando acordos vantajosos para os EUA. Para Campos, este sempre foi o objetivo do republicano.

“A estratégia de Trump era conseguir negociar diretamente com outras nações, especialmente com os chineses. Sendo umas das principais economias do mundo e tendo tanto poder em mãos, outros líderes tiveram que negociar por condições melhores para não serem fortemente prejudicados. O acordo com a China não só demonstra qual era o objetivo dele, mas que o governo chinês não vai aceitar qualquer negócio. Será interessante acompanhar quais serão os próximos passos do presidente americano”, conclui o especialista.