O acordo assinado entre a China e os Estados Unidos em 10 de junho não afasta as incertezas sobre os rumos do comércio mundial associadas ao governo Trump. O lado positivo foi o recuo das tarifas de 125% imposta pela China às importações dos Estados Unidos e de 145% imposta pelos Estados Unidos às importações chinesas. Como comentamos na edição de maio do Icomex, esse nível tarifário significaria a paralisação do comércio entre as duas maiores economias do mundo, o que iria alimentar as expectativas de uma possível recessão global.
Pelo acordo, as tarifas incidentes sobre as importações chinesas serão de 55% e as tarifas da China em relação à importações dos Estados Unidos de 10%. No entanto, como o próprio presidente Trump enfatiza, o acordo é uma trégua e nada garante que não possa ser revisto. Em adição, termina em julho o prazo dado pelo governo dos Estados Unidos aos seus parceiros para que façam acordos e não sejam taxados com as tarifas recíprocas anunciadas no “Liberation Day” de 2 de abril.
O acordo de 10 de junho deixou claro que as tarifas são usadas como instrumento de barganha para alcançar outros objetivos. A China, além das tarifas, havia informado que iria proibir as exportações de terras raras para os Estados Unidos, um insumo essencial para as baterias elétricas e outros produtos. Ao mesmo tempo, Trump havia anunciado a revogação de vistos para estudantes chineses morando nos Estados Unidos. Ambos os países tinham ativos para serem barganhados, o que acabou ocorrendo. São poucos países, entretanto, que tem esse poder face às demandas dos Estados Unidos.
Junta-se a esse quadro a eclosão do conflito entre Israel e Irã que traz novas incertezas e riscos para o cenário político e econômico mundial.
No caso do Brasil em relação ao tarifaço de Trump, um cenário não desejável é a manutenção da tarifa de 10% sobre as importações brasileiras e de 50% sobre produtos da siderurgia e de alumínio. Nesse último caso, uma reversão irá depender não só de negociações que o Brasil possa fazer, mas também pressões da indústria americana que usa produtos siderúrgicos fabricados no Brasil e com oferta insuficiente no mercado dos Estados Unidos. O pior cenário seria se Trump resolver usar as tarifas para obter vantagens em outras áreas, como exploração de minerais estratégicos e terras raras ou pressionar o governo brasileiro em relação à investimentos e/ou importações chinesas.
Até o momento, porém, o que mostram os resultados da balança comercial até maio?
A variação mensal do volume exportado para os Estados Unidos, exceto janeiro 2025 (-11,4%) e março 2025 (-16,0%) foi positiva, com aumento em fevereiro de 17,5%, abril 13,5% e maio de 9,7% (Gráfico 1). Na comparação do acumulado do ano até maio entre 2024 e 2025, as exportações para os Estados Unidos aumentaram 1,2%, nesse mesmo período entre 2023 e 2024, o aumento foi de 17,2%.
Na comparação com a China, os resultados dos Estados Unidos são melhores, exceto em março. As vendas para a China na comparação mensal interanual recuaram -23,1% em janeiro e -13,0% em fevereiro. Aumentaram 11,4% em março, 6,5% em abril e 8,4% em maio. No acumulado do ano até maio foi registrada uma queda de -0,3%, entre 2024 e 2025, e no mesmo período entre 2023 e 2024, um aumento de 11,5%.
Nos Estados Unidos chama atenção, porém, que em termos de quilograma líquido, os semimanufaturados de ferro e aço, o segundo principal produto da pauta, aumentaram as suas exportações em maio em 32% e, em valor, 5,6%. Na comparação do acumulado do ano até maio, em valor, o aumento foi de 7,3%. Os exportadores brasileiros podem estar reduzindo as suas margens de lucro e/ou negociando com os importadores para repartirem o ônus da tarifa. Observa-se, porém, que os dados não incorporam as tarifas de 50%.
A Balança comercial de maio
A balança comercial de maio registrou um superávit de US$ 7,2 bilhões, inferior em US$ 1,1 bilhões ao de maio de 2024. No acumulado do ano até maio, o superávit foi de US$ 24,4 bilhões e no mesmo período de 2024, o saldo foi de US$ 35,2 bilhões. O saldo no acumulado é o menor desde o acumulado de maio de 2022 e é o segundo menor na série mensal de maio, desde 2022.
A piora no saldo acumulado está associada ao aumento das importações. No acumulado até maio de 2025, as importações foram de US$ 112,5 bilhões, sendo o maior número registrado na série iniciada em 2022, de 106 bilhões. Para as exportações, o valor acumulado até maio de 2025 foi de US$ 136,9 bilhões, inferior apenas ao de 2024 que foi de US$ 138,2 bilhões.
A queda no superávit no acumulado até maio reflete o menor dinamismo das exportações em relação às importações, já observado nos dados dos meses anteriores. Em termos de valor, as exportações recuaram -0,9% entre o acumulado até maio de 2024 e 2025 e as importações cresceram 9,2%. Nesse mesmo período as exportações aumentaram em volume 0,7% e as importações 12,4%. Na comparação mensal do mês de maio, as importações cresceram 14,7% e as exportações caíram -0,1%, em termos de valor. No caso do volume, as exportações aumentaram 1,8% e as importações cresceram 7,9%. A queda nos preços é mais acentuada nas importações, seja na comparação mensal ou do acumulado (Gráfico 2).
O Gráfico 3 mostra que se repete o desempenho dos meses anteriores, a piora das exportações sendo associada a um recuo no volume exportado das commodities tanto na comparação mensal (-0,8%) como na do acumulado do ano até maio (-2,4%). Na direção contrária, cresceu o volume exportado das não commodities, +10,3% (mensal) e +8,2% (acumulado). Favoreceu, também, as exportações das não commodities, o registro de aumento de preços, enquanto as commodities registraram queda. Com esse cenário, o valor exportado das commodities recuou -5,5% e das não commodities cresceu em 13,5% na comparação mensal e na do acumulado, os resultados foram queda de -6,5% para as commodities e aumento de 12,4% para as não commodities.
As exportações das commodities explicaram 67% das exportações de janeiro a maio de 2025, onde as principais contribuições são da agropecuária e da indústria extrativa. Em termos de volume, na comparação mensal foi registrada queda na agropecuária (-5,2%) e aumento na extrativa de 7,2%. Na comparação do acumulado até maio, recuo de -0,8% da agro e queda na extrativa de 2,8%. O recuo nos preços de exportações das commodities é explicado pela extrativa, com queda de -12,9% (mensal) e -9,9% (acumulado até maio). Os preços na agropecuária aumentaram: 8,0% (mensal) e 3,4% (acumulado). Em termos de valor, as exportações da agropecuária cresceram 2,3% e da extrativa recuaram 12,5%, na comparação dos cinco primeiros meses do ano de 2024 e 2025.
O principal produto de exportação da agropecuária registrou aumento da quantidade exportada em termos de tonelada (+4,9%), mas café (segundo principal produto de exportação da agro), algodão em bruto e milho registraram queda. Na extrativa, o aumento em maio está associado ao crescimento em volume das exportações de petróleo e minério de ferro, embora em valor tenham recuado pela queda nos preços.
As exportações em volume da indústria de transformação cresceram 4,3% entre os meses de maio e 3,6% na comparação do acumulado até maio de 2024 e 2025 (Gráfico 4). Em termos de valor, aumento de 2,4% (mensal) e 3,3% (acumulado até maio). Observa-se que o desempenho positivo da transformação foi explicado pelas não commodities dessa indústria. As commodities da transformação explicaram 44,2% do total exportado pelo setor e tiveram queda em valor de 8,0%, enquanto as não commodities aumento de 12,4%, na comparação entre os meses de maio. Em termos de volume, as commodities recuaram em -1,9% e as não commodities aumentaram em 11,5%. Entre as não commodities se destaca as exportações de automóveis, com crescimento de 78,7%, em termos de tonelada.
O desempenho das importações é explicado pela indústria de transformação, que explica quase a totalidade das compras externas do Brasil (94%, no mês de maio).
Em valor, as importações da transformação aumentaram 9,5%, 10,6% em volume e os preços recuaram -0,9%, entre os meses de maio de 2024 e 2025. Na comparação interanual do acumulado do ano até maio, as variações foram: valor +12,1%, volume +14,6% e queda de 1,9% nos preços (Gráfico 5). Desde janeiro as variações em volume comparadas em 2025 foram superiores as de 2024, exceto em abril (Gráfico 6).
No mês de maio, o principal produto importado foram os adubos e fertilizantes (+9,4%), seguido de combustíveis (+12,8%), automóveis (+52,1%) e máquinas não elétricas (+29,4%), variações em toneladas entre maio de 2024 e 2025. A pauta de importações tem baixo índice de concentração e esses 4 produtos explicaram 19,2% do total importado.
É possível observar alguma mudança na pauta de importações? O Gráfico 7 mostra a variação em volume por categoria de uso. No mês de maio, se destaca a variação em volume de +41,3% dos bens duráveis associada às compras do setor automotivo. Na comparação do acumulado do ano, porém, a maior variação está associada aos bens de capital (+32,5%), seguida de semiduráveis (+16,7%) e bens duráveis (+10,3%). Em termos de participação no mês de maio, os bens intermediários explicaram 66,4% das importações, seguido dos bens de capital (16,0%), não duráveis (9,3%), duráveis (5,8%) e semiduráveis (2,6%). Apesar da maior variação, a pauta continua concentrada nas compras de bens intermediários (Gráfico 7).
É interessante notar que o aumento nas importações de bens duráveis foi também acompanhado pelas exportações da mesma categoria de uso: mensal (+59,4%) e acumulado (+41,2%). Todas as outras categorias registraram variações abaixo de 10% ou até negativas (bens não duráveis), Gráfico 8. Em termos de participação em maio, os percentuais foram: intermediários (77,5%); não duráveis (14,3%); bens de capital (5,2%); duráveis (2,5%) e semiduráveis (0,5%).
O Gráfico 9 mostra as variações do volume exportado e importado pelos principais mercados. Em termos de volume exportado, a liderança é da Argentina (+55,4%), puxada pelas vendas de automóveis de passageiros (+164%, em valor) e de veículos para transporte (+149%). Para a China as exportações recuam (-0,3%, apesar de ter iniciado os embarques de soja) e para os Estados Unidos e a União Europeia os aumentos são de 1,2% e 2,1%, respectivamente.
Nas importações, a liderança é da China (+35,0%), seguida dos Estados Unidos (+12,6%). União Europeia (+1,3%) e queda na Argentina (-3,3%).
A queda no superávit nos cinco primeiros meses do ano foi liderada pela redução no saldo comercial com a China, que passou de US$ 18,6 bilhões para US$ 8,3 bilhões entre 2024 e 2025 e uma contribuição pequena com o aumento do déficit com os Estados Unidos de US$ 226 milhões para US$ 1,04 bilhões. A Argentina contribui de forma positiva passando de um déficit para um superávit de US$ 2,4 bilhões e a União Europeia de um déficit para um superávit de US$ 161 milhões (Gráfico 10).