A relação entre a taxa básica de juros e a performance das ações na bolsa é direta. Juros mais altos encarecem o crédito, elevam o custo de capital e tornam mais atraente a remuneração do caixa, o que desincentiva novos projetos e restringe o sucesso a empresas mais eficientes. Com a Selic em 14,75% e parte do mercado já projetando uma possível alta para 15% na reunião do Copom desta semana, a régua fica ainda mais apertada — tanto para as empresas quanto para o próprio governo, que enfrenta dificuldades para rolar sua dívida a custos tão elevados.
A boa notícia, até aqui, é que o ciclo de alta pode estar próximo do fim. Embora não haja sinalização clara por parte do Copom sobre quando começaria um ciclo de cortes, a reunião dos dias 18 e 19 de junho ganhou protagonismo após a divulgação de dados de atividade acima do esperado. Segundo relatório da Bloomberg Intelligence, opções digitais da B3 apontam 57% de chance de uma elevação de 25 pontos base nesta reunião, contrariando a expectativa anterior de pausa. Mesmo assim, a curva de juros segue indicando manutenção da Selic acima de 14% até pelo menos meados de 2026, de acordo com os contratos de DI negociados na B3.
No que diz respeito à bolsa, o início de um ciclo de queda na Selic costuma ser um dos principais gatilhos de valorização para os ativos de risco. O motivo é simples: com a queda dos juros, diminui a taxa de desconto dos fluxos futuros e aumenta o apetite por risco. Embora ainda não seja possível prever quando esse ciclo de corte começará, manter exposição à renda variável ao longo dos diferentes momentos costuma ser mais eficiente do que tentar acertar o ponto exato da virada.
Um dado que reforça essa tese: um investidor que perde apenas os 5 a 10 melhores pregões ao longo de 15 anos pode ver sua performance cair até 300%, segundo estudos históricos. Em outras palavras, tentar “acertar o tempo” do mercado pode custar caro — especialmente quando os grandes movimentos de alta ocorrem em poucos dias concentrados.
As empresas listadas na B3 têm mostrado resiliência. Em sua maioria, seguem com lucros crescentes, endividamento sob controle e boa execução operacional. O simples fato de o mercado começar a enxergar o fim do aperto monetário — mesmo que ainda distante — pode ser suficiente para destravar valor relevante.
Além da política monetária, outros gatilhos também podem influenciar a performance da bolsa. O cenário eleitoral de 2026, por exemplo, já começa a entrar no radar, com especulações sobre possíveis candidatos mais alinhados ao mercado.
O recado é claro: esperar a concretização desses gatilhos pode sair caro. Ficar de fora dos dias certos pode comprometer significativamente o retorno composto de um portfólio. Em um horizonte mais longo, os riscos de quem está posicionado parecem menores do que os de quem está à margem.
*Daniel Nogueira é sales de Renda Variável da InvestSmart XP