Escritores, quando reconhecidos, ganham espaço entre as estrelas do firmamento literário de um povo. Luis Fernando Verissimo é, sem dúvidas, uma dessas figuras literárias. Sua prosa simples, beirando frequentemente ao senso comum, com suas analogias, personagens e projetos narrativos, sempre fácil de ler, encantou, encanta e encantará muitos leitores. Adepto principalmente do gênero crônica, Verissimo conseguiu representar um conjunto gigantesco de situações da vida comum, das conversas entre amigos, entre namorados, pais e filhos, até momentos extremamente difíceis foram trazidos para as tratativas de uma sociologia (em seu sentido menos restrito) do cotidiano, à la Michel De Certeau.
Pode-se afirmar que a obra literária de Luis Fernando Verissimo é uma iniciação à leitura de sobreposição ao mero cotidiano, porém, também é preciso reconhecer que a formação consistente do leitor passa necessariamente pela leitura fácil e com a devida ancoragem na realidade concreto sem tantas abstrações. Nesse direcionamento, a função da produção de Verissimo no Brasil de hoje é essencialmente relevante, uma vez que tem enorme potencial de inserir seu leitor em um conjunto literário mais amplo e denso, mais restrito e reflexivo. Há mais..., porquanto a cartografia da sociedade brasileira desenhada no estreito de suas obras, suas colunas, seus romances, exemplifica narrativamente o devido momento histórico no qual todos se encontram e, por extensão, serve de monumento documental para o estudo sociológico, histórico, antropológico, entre outros.
Ora, para a cultura brasileira, que é certificadamente hedonista, o riso fácil e o humor nas pequenas coisas são pontos de intersecção para o sucesso de vendas de livros da lavra de Luis Fernando Verissimo. Seu humor inteligente em muitas de suas crônicas mesclado com o temperamento simplificado, alçado das conversas do dia a dia, demonstra o alcance de boa parte de sua obra, ou seja, a identificação do leitor com a próprias narrativas enseja a necessária adequação das condições de produção das estórias com a condição de recepção dessas, interpretação. Há mais..., já que seu sucesso não foi circunscrito à crônica. Seus artigos de opinião, publicados em jornais de grande circulação, também compõem um acervo significativo, com críticas finais e muito pontuais, tanto de forma quanto de conteúdo que podem servir de percurso a quem deseja trilhar caminho similar.
Luis Fernando Verissimo não é apenas um cronista da vida brasileira, mas um verdadeiro intérprete de suas fissuras, ironias e esperanças. Sua obra, costurada pela sutileza do humor e pela precisão do olhar crítico, revela que a grande literatura não precisa de artifícios herméticos para alcançar profundidade. Com ele aprendemos que o riso pode ser subversivo, que a ironia pode ser pedagógica e que a simplicidade, quando genial, tem a potência de eternizar experiências humanas aparentemente triviais.
Assim, tratar de Verissimo é tratar de uma herança que atravessa o tempo e o espaço da cultura nacional. Não se trata apenas de valorizar o escritor, mas de reconhecer que, em sua pena, a literatura brasileira encontrou um espelho límpido e, ao mesmo tempo, provocador de si mesma. Encerrar este texto é apenas uma formalidade: sua obra continua aberta, disponível, pulsante. Talvez resida aí sua maior grandeza: ter transformado a crônica, esse gênero breve e efêmero, em monumento perene da inteligência e da sensibilidade.
*Thiago Barbosa Soares é analista do discurso, escritor e professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT).