Conexão Tocantins - O Brasil que se encontra aqui é visto pelo mundo
Opinião

 Samir Iásbeck é CEO e fundador do Qranio.

Samir Iásbeck é CEO e fundador do Qranio. Foto: @samiriasbeck/Instagram

Foto: @samiriasbeck/Instagram  Samir Iásbeck é CEO e fundador do Qranio. Samir Iásbeck é CEO e fundador do Qranio.

Vivemos um paradoxo na era digital: quanto mais inteligência artificial implementamos, mais colaboradores "burros" criamos. Esta não é uma provocação gratuita – é uma realidade que observo no mercado. Será que estamos vivendo uma epidemia da preguiça cognitiva?

A verdadeira questão não é se a IA torna colaboradores menos eficientes, mas se estamos usando tecnologia para amplificar inteligência ou substituir pensamento crítico. E a resposta, infelizmente, tem sido a segunda opção na maioria das organizações que conheço.

Nesse sentido, noto que um padrão preocupante tem emergido no mercado corporativo: empresas que investem pesadamente em ferramentas de IA frequentemente relatam quedas inesperadas na qualidade do pensamento estratégico de suas equipes. O diagnóstico é sempre o mesmo: colaboradores desenvolveram o que chamo de "dependência digital passiva".

Em vez de usar a IA como amplificador de suas capacidades analíticas, os profissionais simplesmente delegaram o pensamento crítico para os algoritmos. Resultado? Decisões superficiais, análises rasas e uma perigosa incapacidade de questionar os outputs da máquina. Este fenômeno não é isolado. Um estudo recente do MIT Media Lab, liderado pela pesquisadora Nataliya Kosmyna, demonstrou que usuários de ChatGPT para escrita de ensaios apresentaram "conectividade cerebral mais fraca, menor retenção de memória e senso de propriedade reduzido sobre seu trabalho", comparados a grupos que não utilizaram IA.

A pesquisa, que acompanhou participantes por quatro meses, revelou que "usuários de LLM consistentemente tiveram desempenho inferior em níveis neurais, linguísticos e comportamentais". Paralelamente, uma pesquisa publicada na revista Societies, por Michael Gerlach, da SBS Swiss Business School, analisou 666 participantes e encontrou "correlação negativa significativa entre uso frequente de ferramentas de IA e habilidades de pensamento crítico, mediada pelo aumento do offloading cognitivo".

O estudo mostrou que participantes mais jovens exibiam maior dependência de ferramentas de IA e pontuações mais baixas em pensamento crítico. A tecnologia, quando mal implementada, não nos torna mais eficientes – nos torna mais dependentes. Existe uma crença perigosa no mercado, um mito de que investir em inteligência artificial é uma fórmula mágica para resolver problemas organizacionais. Por isso, vejo executivos gastarem fortunas em sistemas sofisticados, enquanto negligenciam completamente a preparação humana para utilizá-los.

Porém, existe o caminho da gamificação, que ao ser aplicada ao desenvolvimento de competências digitais, pode ser o antídoto para a passividade cognitiva. Em vez de simplesmente automatizar processos, é possível gamificar o pensamento crítico – criando sistemas que recompensam colaboradores por questionarem outputs de IA, por proporem hipóteses alternativas e por identificarem limitações dos algoritmos.

Esta abordagem transforma a relação fundamental entre humanos e máquinas: a IA continua fazendo o trabalho pesado de processamento, mas os humanos reassumem o controle do pensamento estratégico. Para reforçar essa afirmação, trago dados da Future Market Insights, que projetam que o mercado global de gamificação crescerá de US$ 20,8 bilhões em 2025 para quase US$ 191 bilhões até 2034. Mas poucos entendem por que esta explosão está acontecendo agora.

A gamificação não é apenas sobre pontos e badges – é sobre redesenhar a relação entre humanos e tecnologia. Quando aplicada corretamente, ela transforma colaboradores passivos em agentes ativos de sua própria evolução profissional. Em um futuro próximo, existirão dois tipos de profissionais: aqueles que usam IA para amplificar sua inteligência e aqueles que permitem que a IA substitua seu pensamento.

Os primeiros se tornarão exponencialmente mais valiosos. Os segundos se tornarão progressivamente obsoletos. Por isso reforço que a escolha não é da tecnologia – é nossa. A pergunta não é se você usa IA como aliada, mas se você tem coragem de redesenhar seus processos para que ela amplifique, não substitua, a genialidade humana de sua equipe. Por fim, o futuro do trabalho não será sobre humanos versus máquinas, mas sobre humanos potencializados por máquinas. A diferença é sutil na teoria, mas revolucionária na prática.

*Samir Iásbeck, CEO e fundador do Qranio, plataforma LMS/LXP customizável que tem como objetivo auxiliar empresas na criação de programas de treinamentos personalizados para seus colaboradores e que usa gamificação para estimular seus usuários com conteúdos educacionais. Seu foco é criar cursos que possibilitem que os funcionários destas organizações tenham acesso às informações na hora e no local que necessitam, por meio de recursos que incentivam o autodesenvolvimento.