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Opinião

Allan Gallo é professor de Economia na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Allan Gallo é professor de Economia na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foto: Divulgação

Foto: Divulgação Allan Gallo é professor de Economia na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Allan Gallo é professor de Economia na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Nas últimas décadas, a combinação de estagnação salarial e inflação corrosiva transformou o que parecia ser ascensão social em ilusão de ótica. Entre 2010 e 2025, os preços no País avançaram mais de 140%. Isso significa que, há 15 anos, quem ganhava R$ 5 mil precisaria de R$ 12,4 mil, hoje, para manter o padrão. Como a maioria continua recebendo valores próximos aos de 2010, a sensação de progresso virou endividamento, cortes de consumo e improviso no orçamento.

Apesar da robustez do plano real, a moeda que deveria oferecer estabilidade não resistiu ao tempo. Desde 1994, o real perdeu 87% do seu valor de compra, o que, traduzindo em termos práticos, significa dizer que R$ 100 da época equivalem a pouco mais de R$ 12 em 2025. No agregado, a inflação brasileira acumulada nesse intervalo ultrapassou 600%. Nos Estados Unidos, o dólar perdeu metade do poder de compra no mesmo período, o que por si só é significativo, mas muito menos drástico do que os quase nove décimos brasileiros.

O problema não é apenas monetário, pois a cada ciclo, crises políticas e incertezas institucionais adicionaram combustível ao processo de desgaste econômico. Não por acaso, os picos inflacionários coincidem com momentos de instabilidade, como em 1995, 2002, 2015 e 2021.

O impacto sobre a classe média é devastador. Esse grupo que tradicionalmente sustenta o consumo e a arrecadação agora reduz gastos em alimentação, saúde privada e lazer. Entre 2017 e 2022, a chamada classe C viu sua renda disponível encolher cerca de 10%. A roda da mobilidade social, que deveria girar, emperrou. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), seriam necessárias nove gerações para que uma família pobre alcance padrão de vida médio no Brasil, o que coloca o país entre os piores do mundo.

Não é apenas o bolso que encolhe. A erosão da classe média fragiliza a própria espinha dorsal da sociedade. Enquanto os mais ricos conseguem se proteger e os mais pobres recebem auxílios, o grupo intermediário arca com impostos altos e pouca contrapartida. A cada nova década, renova-se a promessa de estabilidade, mas, na prática, repete-se a frustração. O desaparecimento silencioso da classe média é, também, a morte de um futuro que já não chega.

*Allan Gallo, professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e pesquisador de Centro Mackenzie de Liberdade Econômica (MackLiber).