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Opinião

Leonardo Carvalho Braga é professor do Curso de Relações Internacionais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.

Leonardo Carvalho Braga é professor do Curso de Relações Internacionais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio. Foto: Divulgação

Foto: Divulgação Leonardo Carvalho Braga é professor do Curso de Relações Internacionais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio. Leonardo Carvalho Braga é professor do Curso de Relações Internacionais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.

Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 marcaram significativamente as relações internacionais. O evento, logo no início do século XXI, pode ser estudado por diversas perspectivas, desde a teoria da guerra justa (dos pensadores medievais aos contemporâneos) à teoria de regimes internacionais (na produção do direito internacional para fins específicos).

Mas, a perspectiva inescapável parece ter sido aquela cunhada por Samuel Huntington, em 1996, o “choque de civilizações” (entre as civilizações ocidentais e não-ocidentais), quando o autor afirma que a base fundamental dos conflitos internacionais será cultural e não mais ideológica ou econômica.

Huntington tem sua tese materializada cinco anos depois, quando ocorrem os atentados de 11 de setembro de 2001, nos EUA: ataques terroristas assumidos por Osama bin Laden, numa “guerra” religiosa-civilizacional. Passados 24 anos, qual o nível de preocupação com o terrorismo tal qual o for concebido em 2001?

Criado pelos EUA ainda em setembro de 2001 como resposta aos ataques terroristas, o Departamento de Segurança Interna (Department of Homeland Security) produz, a partir de seu Escritório de Inteligência e Análise (Office of Intelligence and Analysis), relatórios de avaliação de ameaças internas (Homeland Threat Assessment).

O relatório de 2025 trata de ameaças de terrorismo relacionadas a temas como imigração, crime organizado transnacional, ataques cibernéticos e competição geopolítica e estratégica a partir de quatro dimensões: segurança pública e proteção, segurança de fronteira e imigração, segurança de infraestrutura crítica e segurança econômica.

O relatório indica textualmente que “a produção, o tráfico e a venda de drogas ilegais por criminosos transnacionais e nacionais continuarão a representar a ameaça mais letal às comunidades nos Estados Unidos”. Aqui, chama a atenção a disposição do atual Governo Trump para relacionar a Venezuela como fonte de ameaça à segurança dos EUA e suas últimas ações.

A Venezuela de Nicolas Maduro é o alvo da vez. Após deslocar navios de guerra americanos à região como manifestação de poder em relação à Venezuela e de proferir ataque letal a (suposta) embarcação que transportava drogas em direção aos EUA, Trump autorizou que jatos americanos derrubem caças venezuelanos em eventuais sobrevoos a navios americanos.

Com a cabeça a prêmio desde seu primeiro governo e na gestão Biden, Maduro parece alimentar o exercício de Trump – apoiado no lema MAGA (Make America Great Again) de legitimar políticas domésticas e forjar apoio político nacional frente à percepção de um inimigo externo que produz ambiente social de insegurança nos EUA: imigrantes e consumo de drogas.

Esse cenário faz incidir sobre o Brasil certa atenção ao considerar a fronteira de frágil controle entre Brasil e Venezuela que pode deslocar integrantes narcoterroristas ao Brasil e envolver o país numa relação menos amistosa com seu vizinho em cenário recente já menos amistoso dada a eleição venezuelana sob fortíssimas suspeitas de fraude.

O Brasil pode ficar em situação mais sensível do que se espera, nesse cenário, ao considerar que a Venezuela espera que o BRICS condene o comportamento americano. O Brasil tolera o governo de Maduro. Mas, qualquer posição brasileira favorável ao governo de Caracas pode deixar o Brasil dando mais apoio ao regime de Maduro do que deveria e criar indisposição com os EUA.

Ao mesmo tempo, isso cria oportunidade de revitalizar a liderança brasileira na região, caso o Brasil assuma posição de interlocutor entre Venezuela e EUA. Em tempos de UNASUL (ainda) desarticulada e de frágil inserção internacional dados os limites globais de participação decisiva do Brasil nos conflitos internacionais, a América do Sul ressurge como alternativa.

Entre os limites tradicionais da atuação de nossa política externa com base nos princípios de não-intervenção e autodeterminação dos povos, pode ser oportuno ao Brasil continuar a fazer aquilo que faz de melhor – promover diálogo cooperativo – a fim de promover a região como espaço de paz em que seja o Brasil ator preponderante na produção da ordem regional.

*Leonardo Carvalho Braga é professor do Curso de Relações Internacionais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.