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Economia

Foto: Wenderson Araujo/Sistema CNA/Senar

Foto: Wenderson Araujo/Sistema CNA/Senar

A inflação geral do Brasil registrou uma queda de -0,11% em agosto, impulsionada em grande parte pela redução no custo da energia elétrica. Contudo, o Boletim Mensal de Monitoramento da Inflação de Alimentos, produzido pelo Pacto Contra a Fome, destaca que o alívio geral, além de temporário, não tem efeito uniforme e o acesso à alimentação saudável segue como um desafio marcante para as famílias mais pobres.

A boa notícia é que o grupo de Alimentos e Bebidas registrou uma deflação pela terceira vez consecutiva (-0,46%), com redução na alimentação dentro e fora do domicílio. O boletim também apresenta o custo da cesta NEBIN, composta majoritariamente por alimentos in natura e minimamente processados, recomendados para uma dieta saudável, que passou de R$ 415 para R$ 408, em agosto. No entanto, mesmo com o cenário mais positivo, uma família de três pessoas gastaria R$ 1.224, uma despesa elevada em comparação com o salário mínimo de R$ 1.518.

O Pacto Contra a Fome ressalta que a inflação tem pesos diferentes para cada faixa de renda. A queda dos preços de alimentos e bebidas foi mais acentuada para as famílias de menor renda (INPC -0,54%) do que para a média geral (IPCA -0,46%). No entanto, o custo da alimentação fora do domicílio desacelerou, passando de 0,87% em julho para 0,50% em agosto.

O documento também analisa a variação dos alimentos segundo o grau de processamento da classificação NOVA, criada pelo professor Carlos Monteiro e a equipe do Nupens. Observa-se uma queda nos alimentos in natura e minimamente processados, isto é frutas, legumes, cereais, ovos, pescados e carnes frescas. No resultado acumulado de 13 meses, essa categoria acumula a maior alta (+7,84%) enquanto os ultraprocessados, produtos com alto teor de açúcar, sódio e sal aditivos, ficam relativamente abaixo (+6,81%). Essa relação reforça que os alimentos saudáveis são muito mais sensíveis à variação de preço por fatores como clima e outros choques.

O boletim sinaliza que a redução recente nos preços ainda não é sentido de forma uniforme pela população. Isso porque a queda se concentrou em poucos itens: tomate, manga e arroz explicam sozinhos mais de um terço da redução em agosto. Para as famílias de menor renda, o impacto é imediato, já que esses produtos estão presentes no consumo cotidiano. Mas, ao mesmo tempo, outros alimentos importantes continuam caros, o que limita a sensação de melhora no orçamento. Essa diferença ajuda a entender por que, mesmo em cenários de deflação, a percepção do consumidor nem sempre acompanha os índices oficiais.

O boletim traz um olhar para a alimentação fora de casa. Um terço do gasto em alimentação já corresponde com refeições fora do domicílio. Nos últimos três meses, enquanto os preços dos alimentos em casa estavam em baixa, a alimentação fora de casa continuou a subir em um ritmo médio de 0,61% ao mês. No resultado acumulado de 12 meses, a alta na alimentação fora de casa (8,50%) foi superior à da alimentação no domicílio (7,01%), uma tendência que reflete o aumento de custos como mão de obra, aluguel e energia.

Para Ricardo Mota, gerente de Inteligência Estratégica do Pacto Contra a Fome, os dados mostram um alerta importante: “Apesar do alívio momentâneo nos índices de inflação, a alimentação saudável segue cara e pouco acessível. O último relatório das agências da ONU aponta que quase 24% da população, cerca de 50 milhões de brasileiros, não consegue pagar por uma dieta saudável. O fato de os alimentos in natura acumularem a maior alta em 12 meses reforça a necessidade de políticas públicas estruturantes, que reduzam a volatilidade desses preços e garantam o direito à alimentação adequada de forma contínua e sustentável”, destaca.

A análise reforça que, mesmo diante da deflação geral, o aumento em itens como plano de saúde, aluguel, condomínio e gás de botijão tende a manter restrições sobre a renda disponível, especialmente entre as famílias de menor poder aquisitivo. (LouresCom)