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Veículos

Escolher quanto dar de entrada e como negociar a taxa de juro para o financiamento de um veículo deixou de ser detalhe e virou diferença de milhares de reais no custo total de um novo automóvel. Só em maio, os financiamentos somaram 602 mil unidades no país, alta de 4,3% versus maio de 2024, segundo a B3. O que demonstra uma forte demanda, apesar do crédito caro.

O custo do financiamento continua no centro do debate. Entidades do setor automobilístico apontam que a taxa média anual do financiamento segue em patamar historicamente elevado, com média de 29,5% ao ano. Na prática, isso deixa o consumidor mais sensível a variações de entrada e de prazo. Quando a taxa é alta, cada ponto percentual negociado faz grande diferença no Custo Efetivo Total (CET).

Para dimensionar o impacto, uma simulação divulgada pela própria B3 em guia ao investidor considera um carro de R$ 100 mil, com 20% de entrada e 60 meses, usando taxa média mensal em torno de 2,1%–2,3% (equivalente a ~28% a.a. nas estatísticas do Banco Central). O resultado ilustra dois pontos: (1) entrada maior reduz o saldo financiado e “amortece” os juros; (2) prazos mais curtos encarecem a parcela, mas derrubam o custo total. É o tipo de base objetiva que ajuda a separar proposta boa de “desconto” ilusório.

Há, porém, momentos em que negociar é mandatário, e outros em que desconfiar é prudente. “Em cenários de taxa acima da média do mercado, vale argumentar com referências públicas (relatórios do Banco Central e comparadores) e pedir que a instituição explicite todos os componentes do CET. Se, após o pedido, a proposta não apresentar planilha detalhada de juros, tarifas e seguros opcionais, o sinal de alerta deve acender, já que transparência é obrigação regulatória”, orienta Marcos Maricato, gestor comercial da Credicarro, empresa que atua na concessão de crédito para aquisição de veículos.

Outro filtro para balizar o consumidor é de que o financiamento precisa caber no orçamento sem ultrapassar cerca de 30% da renda mensal. Bancos de varejo orientam a simular com essa régua antes de avançar. Se a parcela só “fecha” esticando o prazo ao máximo, com entrada mínima artificial, é alto o risco de a dívida ficar pesada demais ao longo do contrato.

"Muitas vezes, a ansiedade em colocar um carro na garagem faz com que o consumidor aceite qualquer condição sem avaliar o impacto no longo prazo, uma das principais manobras que são incentivadas no mercado  é o parcelamento da entrada no cartão de crédito, que ao decorrer dos meses acaba virando uma alavanca no endividamento, resultado da soma da parcela do financiamento com a fatura do cartão. Negociar taxas, comparar simulações e analisar o Custo Efetivo Total do financiamento são passos essenciais para garantir que o sonho do carro próprio não vire uma dívida impagável", explica Maricato.

Propostas que parecem “boas demais”, com entrada muito facilitada e taxas muito abaixo da média praticada pelo mercado, exigem cautela extra. A aprovação do crédito pode vir condicionada à contratação de seguros ou serviços, prática ilegal, mas que continua gerando reclamações formais. Se o cliente ouvir que “só sai com seguro X”, é direito dele recusar e pedir a reprecificação — e, em último caso, registrar queixa nos canais oficiais tanto da empresa quanto nos órgãos de proteção ao consumidor, como o Procon.

Para quem está em busca de um novo veículo, o caminho para uma boa negociação passa por três frentes: chegar com referências de taxa média de mercado (e pedir detalhamento do CET na ponta do lápis), ajustar a entrada até um patamar que derrube de forma relevante o custo total, e encurtar o prazo na medida do possível sem asfixiar o orçamento. Em 2025, com demanda aquecida e crédito exigente, informação é a alavanca mais poderosa que o comprador tem à mesa.