A Universidade Federal do Tocantins (UFT) registrou seu segundo desenho industrial, intitulado “Tabuleiro Maia”, criado pelos professores Adão Lincon Bezerra Montel, Warley Gramacho da Silva e Rafael de Oliveira Ribeiro, vinculados às áreas de Engenharia Civil e Ciência da Computação. O registro foi realizado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), sob o número BR 30 2025 005410-9.
Claudia Auler, diretora de Inovação e Transferência de Tecnologia da UFT, explica que o desenho industrial é a modalidade de proteção que assegura exclusividade sobre o aspecto visual e ornamental de um produto, resguardando sua forma estética, a disposição de seus elementos e sua identidade visual. No caso do Tabuleiro Maia, o diferencial está na distribuição geométrica dos furos, concebida para reproduzir de forma fiel o sistema numérico do povo maia, permitindo a representação de números e a realização de operações matemáticas por meio de pontos, traços e símbolos.
O professor Adão Lincon contextualiza que, ao longo da história, diferentes povos desenvolveram sistemas matemáticos próprios; entre eles, apenas dois apresentaram, de forma clara, a representação do valor nulo (zero) com símbolo específico: o sistema indo-arábico, amplamente utilizado atualmente, e o sistema numérico maia, desenvolvido por povos que habitavam a região correspondente ao atual México. “Esse sistema sofisticado possibilitou avanços significativos em áreas como astronomia, arquitetura e engenharia”, afirmou.
Pensando no potencial pedagógico dessa matemática ancestral, os pesquisadores desenvolveram um tabuleiro capaz de realizar operações utilizando o sistema maia. Segundo Adão Lincon, a ferramenta amplia significativamente as possibilidades educacionais: “Pensando no potencial de aplicação da matemática maia no ensino, desenvolvemos um tabuleiro que funciona como uma calculadora. Enquanto o ábaco permite apenas operações de soma e subtração, o Tabuleiro Maia possibilita realizar soma, subtração, multiplicação, divisão e até raiz quadrada para valores pequenos. Por possuir peças discerníveis ao tato, o tabuleiro também tem sido utilizado com sucesso por estudantes com deficiência visual. O registro desse tabuleiro pela UFT permitirá sua exploração econômica no campo educacional, especialmente na alfabetização matemática”.
O professor destaca ainda que, ao contrário do sistema indo-arábico, que apresenta maior nível de abstração, o sistema numérico maia é mais intuitivo, permitindo a obtenção de resultados por caminhos alternativos aos tradicionalmente utilizados. Ele é composto por apenas três símbolos: o ponto (unidade), o traço (cinco unidades) e um símbolo semelhante a uma concha, que representa o zero. “O estudo da etnomatemática, que investiga os sistemas matemáticos desenvolvidos por diferentes culturas, contribui para ampliar a compreensão dos conceitos quantitativos e viabiliza práticas pedagógicas inclusivas, adequadas a distintos perfis de aprendizagem”, pontuou Adão Lincon.
Saiba mais
Claudia Auler ressalta que, diferente do primeiro desenho industrial registrado pela UFT, voltado ao ensino da propriedade intelectual, o Tabuleiro Maia tem como principal diferencial a valorização de saberes ancestrais por meio do design, integrando matemática, engenharia, cultura e educação em uma solução visual inédita. O arranjo dos orifícios organiza-se em padrões de linhas e colunas que refletem a lógica da contagem maia, permitindo sua aplicação em atividades pedagógicas e experimentais.
Para ela, do ponto de vista institucional, o registro reforça a estratégia de diversificação do portfólio de propriedade intelectual da UFT, ampliando o escopo de proteção para além de patentes e softwares: “O registro do Tabuleiro Maia como desenho industrial representa um avanço importante na diversificação do portfólio de ativos de propriedade intelectual da UFT. Ao proteger soluções baseadas em design, a Universidade amplia suas possibilidades de transferência de tecnologia, fortalece a gestão estratégica da inovação e reconhece o valor de criações com potencial educacional, cultural e mercadológico”.


